"Como eu, estão nesta situação milhares"

Ter 30 anos é sinónimo, na sociedade portuguesa, pertencer à geração dos recibos verdes ou dos mil euros como já nos apelidaram.

Sou licenciada em Comunicação Social e sou Jornalista. Esta frase soa-me sempre à descrição de uma personagem de um conto ou de uma estória, porque apesar de ser verdade é irreal.

Trabalho há seis anos como jornalista, sobretudo na área da televisão. Tenho saltado de produtora em produtora, de projecto em projecto, sempre a recibos verdes, onde nos exigem total dedicação e nenhuma valorização, onde os meios não existem e a qualidade é discutível.

Habituada a trabalhar cerca de 10 horas por dia em cada projecto, no final tudo acaba e a equipa é espartilhada, a redacção desaparece e fica apenas a mobília.

A carteira profissional, consegui a de estagiária, depois de várias tentativas. Não foi renovada porque não estive doze meses seguidos a trabalhar. O sistema castiga-me porque eu sou jornalista, trabalho em condições precárias, sou explorada e muitas vezes mal tratada por quem me contrata e não tenho direito à carteira profissional, não posso pertencer a um sindicato que me proteja e defenda os meus direitos. Subsídio de desemprego... não claro que não afinal sou uma profissional liberal.

E como eu, estão nesta situação milhares, senão a maioria daqueles que alimentam diariamente os jornais, as televisões, as rádios e as produtoras. Multiplicam-se os estágios, não remunerados e explora-se a vontade e a ambição de quem quer vencer num mercado viciado, que não dá trabalho a quem forma, mas que os descarta ao fim de algum tempo "para dar lugar" a uma nova vaga de estagiários ávidos que acreditam sempre, que com eles vai ser diferente.

Estou há seis meses sem trabalho, todos os dias respondo a mais do que uma candidatura de emprego. Respostas, tive duas. Todos os dias leio os jornais, vejo os noticiários televisivos e todos os dias vejo os mesmos nomes.

Parece um comentário derrotista... talvez, mas eu ainda não desisti.

A ideia de um 5º Canal que possa não só mudar a televisão em Portugal, e que possa dar valor ao trabalho de jornalista, dá-me vontade de arregaçar as mangas e vestir a camisola. Espero que o vosso projecto, a ganhar, faça de facto a diferença que promete. Saúdo por isso a Telecinco, por terem a ousadia de propor uma redação com 147 jornalistas e por definir como código de honra a contratação a termo, o que representa um " Não" claro ao recurso aos recibos verdes e um "Sim" à dignificação do Jornalismo.

Matilde Machado in blog do novo projecto empresarial de televisão - Telecinco

3 comentários:

Anônimo disse...

Estava a pensar em seguir um curso de Comunicação Social, mas depois de ler este post estou com receio.

PJ disse...

Cara "au revoir Camille", é a forma pessimista de encarar a questão. A optimista será, se de facto é essa a escolha, preparar-se para contornar o panorâma. Como? Mostrando ao(s) futuro(s) empregador(es) que é uma mais-valia. Até lá, é aproveitar o tempo para adquirir competências para tal.

Anônimo disse...

Sim, tem toda a razão. Vou reflectir sobre a minha decisão: )

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