Casas a Metro

Encontrar casa é sempre um dos primeiros passos de quem estuda fora. Sendo eu de Aljubarrota, não houve dúvidas sobre a necessidade de um sítio para pernoitar enquanto durasse o meu Estágio na Revista Focus, em Sintra. As dúvidas surgiram pouco tempo depois.

Encontrar casa foi complicado, especialmente com tão pouco tempo… Tinha que encontrar casa e torná-la habitável em pouco mais de uma semana, e isto porque a Revista não me aceitou sem a entrega prévia do protocolo com o IPL; caso contrário, seriam apenas quatro dias até me mudar.

Dado a urgência e o pouco tempo restante, o dia em que fui à Revista para uma entrevista foi reservado para procurar casa. Sendo a Impala (empresa a que pertence a Focus) ao lado do IC19, achei por bem começar a procurar desse lado da via. O bucólico local da Abrunheira era uma terriola sem casas para arrendar e com poucas para vender, não havia hipóteses: nem bom, nem mau; nem caro, nem barato.

Depois de algum desespero, atravessei para o lado oposto do IC19, onde o cenário mudou radicalmente. Com prédios, centros comerciais e hipermercados, Mem-Martins era visualmente a evolução da Abrunheira, e tendo visto duas agências imobiliárias pelo caminho, decidi parar para perguntar por casas. A Era Imobiliária e a Veigas Imobiliária tinham ambas duas coisas em comum; ou melhor, não tinham: não tinham quartos, T0s nem T1s. De facto só havia casas para arrendar de T2 para cima e a mais de 400€ por mês.

Algo abatido, tentei contactar um conhecido de um amigo da mulher-a-dias da minha mãe que aparentemente tinha quartos para arrendar. Era engano, na verdade, ele arrendava um estranho híbrido entre capoeira e pocilga, repleto daquilo que eram provavelmente emigrantes ilegais de raça negra. O senhor, esse, era “professor” na sua própria escola, vestia fato e gravata e conduzia um BMW. Aparentemente, tudo pago com o dinheiro que ganha a explorar os que não podem pagar melhor. 150€, sem recibo, para viver numa marquise com cama, numa casa a cair, e onde tinha de passar pelo quarto de um velhote para chegar ao “meu” era a oferta do “professor”. Não preciso de referir o cheiro intenso a urina para ser óbvia a razão da minha recusa em viver em tal espelunca. “Preferia recusar o estágio”, confessei à minha mãe, já a caminho da Veigas Imobiliária, enquanto esta insultava o nosso “anfitrião”.

Dado que a Era só tinha um T2 para arrendar, e o dono não arrendava por apenas três meses, a Veigas foi a única opção. Só visitei dois T2, todos os que havia, e o primeiro também estava longe de cheirar a rosas, além de estar algo degradado e ainda ter os donos a viver lá dentro. Segundo a agente imobiliária, aquela família de um casal e dois filhos estava em dificuldades devido ao despedimento de um dos cônjuges, e procura arrendar a casa, mudando-se para casa de um familiar quando isso acontecer. Fiquei um pouco incomodado por andar a coscuvilhar a casa onde aquelas pessoas viviam, e se tivesse gostado da casa, também ficaria incomodado por quase os expulsar para eu entrar. Não era uma opção. Restava uma casa, se fosse má, não sei o que teria feito. Felizmente não era!

Aquele que é actualmente o meu T2 (em foto) é um apartamento de construção moderna no quarto andar de um modesto prédio em Mem-Martins e que me encantou desde o primeiro minuto (especialmente por os outros serem tão maus). Vivo a 10 minutos da Impala, para onde vou de carro todos os dias, com a ajuda do meu GPS indispensável para viajar naquela terra composta quase somente por vias de sentido único, e tenho fogão, cama, um sofá bestial e a companhia da minha velhinha PlayStation 2. It’s my home away from home. Mas voltar ao meu lar será sempre o meu maior prazer!



David Sineiro


*NOTA: Este post foi escrito no dia 25 de Fevereiro, dia em que comecei o Estágio, mas não pude postar antes*

4 comentários:

Ana Margarida Borba disse...

Imagino todo esse lufa-lufa, a correria que não foi... Vida de estudante...que sacrificios, hein? Felizmente que nos adaptamos a tudo, ou quase tudo.

Quando te sentires muito só para esses lados e quiseres vir uma noite ao "centro" (lol) avisa, tens uns cafés muito fixes na avenida. Muitos chiques também hehe.

PJ disse...

Isso é que foi uma aventura! Fechado o primeiro capítulo, que se sigam outros, do estágio propriamente dito :P

joao disse...

Oh fiasco...Com casa própria ninguem para este menino...

bolachabaunilha disse...

Giro giro é eu ter nascido e crescido aqui, viver actualmente na Abrunheira, e estar a ler esta hilariante descrição da terra, porqu claro que aos meus olhos é bem diferente!!!
Muito engraçado...mesmo.
Pena que não tenha sabido antes, ter-te-ia ajudado a encontrar um local decente...
Se bem que em Mem-Martins sempre dá para ver umas caras.
Boa sorte!!

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